segunda-feira, 12 de maio de 2008

Causas para os disturbios alimentares

Causas para os disturbios alimentares

As variáveis socioculturais interagem com o processo de desenvolvimento, porque é a sociedade que cria conceitos e preconceitos, sendo que estes influenciam o modo de pensar e agir do Homem. No caso da definição cultural do peso e da forma corporal ideal, esta tem variado ao longo dos tempos, existindo, actualmente, atitudes negativas relativamente a uma forma corporal gorda, o que pressiona o ser humano para a magreza e realização de dietas, principalmente as mulheres. Assim, há, nos dias de hoje, uma grande preocupação com a imagem do corpo, em especial na mulher ocidental, que se deve, em grande parte a factores como os estereótipos culturais, as modificações no ideal de beleza social, a massificação dos media, a glamourização da moda e a grandes transformações nas expectativas e papéis sociais da mulher, e leva, muitas vezes à insatisfação relativamente à imagem — “descontentamento normativo” —, o que pode influenciar o desempenho da mulher em várias situações. “(...) os estereótipos actuais em relação à aparência física contribuem para o aumento da bulimia nervosa” . Devido a este estereótipo, as mulheres mais atraentes são, normalmente, percepcionadas como mulheres que possuem mais capacidades, que têm mais sucesso e que são mais felizes. “Também a nível do mercado de trabalho, o estereótipo da aparência física influencia as decisões de contratação. Os indivíduos fisicamente mais atraentes têm mais probabilidades de serem avaliados como mais qualificados (...)”. O ideal de beleza, como já foi referido, variou ao longo dos tempos e tornou-se, actualmente, na imagem de magreza. Estudos realizados demonstram que a maioria das mulheres não possui o peso considerado ideal e que a insatisfação com o corpo é maior nestas do que nos homens.Para compreender melhor esta preocupação com a imagem é necessário ter em conta o papel que a beleza tem na vida da mulher. Alguns estudos demonstram que existe uma relação entre o comportamento alimentar e a percepção de feminilidade. É sugerido que uma mulher que come pouco é mais feminina e que, consequentemente, causa uma melhor impressão nos homens. Verificou-se que a bulimia nervosa aumentou consideravelmente na época em que a mulher abandonou o seu papel tradicional e procurou outros papéis sociais. Contudo, apesar de terem sido realizados estudos com vista a descrever e melhor compreender a relação existente entre a bulimia nervosa e feminilidade, não foi possível obter apoio empírico que comprovasse que a bulimia nervosa surge da procura de um ideal social estereotipado de feminilidade. A pressão cultural para a magreza exercida sobre as mulheres verifica-se com mais frequência em grupos, o que significa que as mulheres cuja profissão esteja relacionada com a imagem corporal (bailarinas, modelos, etc.) têm mais possibilidades de desenvolver distúrbios alimentares. Já no grupo de amigos pode acontecer que exista esta pressão ou, pelo contrário, exista uma protecção por parte destes. O preconceito contra os “gordos” constitui outra influência na ocorrência de distúrbios alimentares, já que as pessoas com uma forma corporal gorda são culturalmente associadas a um baixo estatuto social, à preguiça e descontrolo. Este preconceito inicia-se cedo, sendo possível verificar que já existe na escola primária ou até antes. Estudos demonstraram que crianças de peso normal e crianças obesas atribuem características negativas a pessoas “gordas”. Além da magreza existir como o ideal de beleza, passou a existir, também, como indicador de saúde, devido à mensagem negativa por parte dos médicos, relativamente à obesidade e consequente exploração desta mensagem pela “indústria do emagrecimento” — “magreza é saúde”. Outro factor sociocultural que muito influencia no aparecimento de distúrbios alimentares é a massificação dos media. Seja na televisão ou em revistas, verifica-se que há frequentes tentativas de “vender” imagens de corpos perfeitos, incluindo em artigos que mostram como alcançar a imagem ideal, muitas vezes através de “milagres”. Contudo, a mensagem que diz ao público que qualquer mulher pode obter o corpo perfeito apenas com autodisciplina e esforço, ou até sem ele, está errada, já que muitas mulheres não têm uma constituição genética que lhes permita ser magras. Quem está mais vulnerável à influência desta mensagem são as mulheres com baixa auto-estima e descontentes com a sua imagem. Estudos comprovam que existe uma relação entre a exposição aos media e a insatisfação corporal e patologias alimentares.


Aspectos Desenvolvimentistas

Desde a infância, raparigas e rapazes recebem diferentes imagens acerca do corpo através dos media, da família, dos amigos, etc., criando diferentes atitudes em relação ao corpo. “As raparigas tendem mais a percepcionar o seu corpo numa perspectiva estética e os rapazes a encará-lo numa perspectiva funcional e activa.” Ao contrário dos rapazes, as raparigas dão mais importância à imagem que passam aos outros, já desde a infância, o que torna a adolescência mais difícil para estas, o que é agravado pelo conjunto de mudanças que ocorrem neste período. Ao mesmo tempo que a adolescente valoriza muito a opinião que os outros têm de si, tem necessidade de compreender e conjugar as visões que tem de si mesmo, que podem ser confusas e paradoxais. A imagem corporal, nesta fase, torna-se muito relevante pois a adolescente dá extrema importância ao que os outros pensam de si e está mais vulnerável a outros factores como, por exemplo, as variáveis socioculturais. Contudo, observações clínicas mostram que alguns casos de bulimia nervosa começam já na vida adulta, o que revela a constante preocupação da mulher com o seu peso e imagem, independentemente da sua idade.

1 comentário:

Anónimo disse...

A anorexia e a bulimia não são uma mania... não se trata de alguém que "se deixou cair em erro". São perturbações mentais e devem ser tratadas como tal. As pessoas que sofrem destas doenças devem ser ajudadas. Não se deve pensar que elas são assim porque querem.
Há um conjunto de fatores que leva ao desenvolvimento de uma patologia do comportamento alimentar e a "vontade de ser anorética ou bulímica" não é um deles. Penso que a descrição do blog não se adequa. Ninguém "cai no erro" de se tornar anorética/o.